rascunhos_ana

Rascunhos...apenas rascunhos e nada mais...

sábado, setembro 23, 2006

A quem mais vou ter que repetir que tudo isto é um absurdo?
É um absurdo ter estudado quatro anos, é um absurdo ter vivido um autêntico pesadelo no ano de estágio, é um absurdo actualizar e enviar currículos constantemente...é tudo um absurdo!
Na melhor das hipóteses arranjo um trabalho na minha área lá para o ano 2020! E sinceramente já estou a ser optimista...Eu só quero exercer a função para a qual me formei...
A única coisa que tem lucrado com esta minha inércia é a minha sede literária...sempre vou tendo tempo para pôr em dia leituras desejadas e tantas vezes adiadas por mil e um motivos, quase sempre relacionados com o curso...
Apesar das minhas viagens literárias, Oiço cair o tempo, gota a gota, e nenhuma gota que cai se ouve cair (Livro do Desassossego, de Bernardo Soares). O tempo passa e mal se nota e eu quero apenas mexer-me, espreguiçar-me e começar a soltar as amarras que teimam em prender-me...

segunda-feira, setembro 04, 2006

Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus! o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Para uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Fica o poema...Álvaro de Campos...o meu desafio...

Regresso...


Depois de uma semana chuvosa passada em Resende, mais precisamente, em Santa Maria de Cárquere, regressei a casa. Regressei à esperança de encontrar um emprego que faça valer os anos da Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, Variante de Estudos Portugueses e o maldito ano do Curso de Especialização em Ensino do Português...missão absolutamente impossível!
Começa a maratona para os ensaios para a Festa de Natal...começam as dores de cabeça!Onde é que arranjo mais poemas de Natal para crianças? Onde é que descubro uma peça de teatro infantil sobre o Natal? Vai ser deveras complicado! Pelo menos tenho a esperança de que as crianças continuem com vontade de participar numa festa de Natal que é deles e para eles...quanto a mim, apesar de tudo, não me podiam dar maior presente do que trabalhar com crianças (tarefa que me agrada muitíssimo!) podendo transmitir conhecimentos que fui adquirindo ao longo dos anos.
É possível adivinhar que os próximos meses serão de grande stress, mas nada que a ajuda dos amigos não possa aliviar!